12/20/2011

Ela fugiu de casa (incompleto)

Caminha porta afora
Foge agora daqui
Carrega a tua mala
de roupas, tecidos, remédios, brocados, pentes, perfumes
e mais que tudo, de ti.

Corre e vai embora
Anda logo a partir
Leva teus mijados
escondidos, dobrados, brinquedos, passado, fotos, um livro
Mas não esquece que tu as leva a ti.

Se tu te levas contigo,
Vais ter sempre que do que fugir.

12/19/2011

Curtas

Entreat

Hast thou gone? Please do not vanish like a cloud that dissolves in the rain, for it would be a most atrocious plight not to hear a word from you again.


Ping Pong

Bola vem
Bola vai
Bola vem
Bola vai
Ponto.

Mapas em relevo

Queria me perder na geografia do teu corpo
Expedições mil, sem prazo para voltar
Conhecer cada vale, monte e cachoeira
Como a palma da minha mão
Com a palma da minha mão
E olhos maravilhados
Do paraíso terreal

Sobre Mário Quintana

Quintana que me perdoe pela heresia, mas se ele pode fazer poemas de uma linha só, eu também posso. Aí vai:


Reencontro sentimental de ex-amantes apaixonados

Oi.

12/13/2011

Cenas da Vida Surreal

(Essa eu escrevi no colégio, sempre dedicado a tirar sarro com as sopas de letrinhas da gramática).

No Pronto-Socorro:
- Doutor, temos que aplicar logo uma sinestesia no pobre coitado!
- Não podemos, ele pode estar infectado com metáfora.
- Mas Doutor, o paciente tem pleonasmos constantes, está entrando em estado de metonímia!
- Ora vamos, acalme-se. Eu sei ciente da condição, contudo ainda não fizemos os testes anti-tese, ele pode ter uma catacrese se receber a sinestesia.
- Claro Doutor, claro... preciso controlar meus nervos. Mas é tão difícil... vejo todo esse sangue espalhado e quase sofro um ataque de eufemismo.
- Tudo bem, já passou. Aliás, não se esqueça que quem está tendo o surto de silepsia é o paciente, não você. O pobre coitado está cacofônico, com sintomas de total aliteração!

Porém, era tarde para qualquer ação. Hipérbato Linhares, pai amoroso de quatro filhos e uma vírgula, não resistiu ao ataque siléptico. Estava encerrada a hipérbole de sua vida e iniciada sua eterna prosopopéia no além.

Sua última palavra? Uma onomatopéia.

Linguiça

Dito e feito
Esqueci o que ia escrever
Sem efeito
Já não pude me conter
Rima rica ou rima pobre
Que rime, azar
O mundo que me cobre
Dos desgostos e penar
Escrito por escrito
Dito por não dito
Texto por pretexto
Encho cá espaço
só pra me ocupar.

A ti e a mim.

Dos dias em que foste tudo em minha vida,
Antes de mais nada, foste amor
Antes de mais nada, foste o meu
Antes de mais nada, foste tudo o que eu queria
Antes de mais nada, foste o vento.

Foste a parte da terra que a mim cabia,
Foste mais
Antes de mais nada foste só meu amor,
Que ainda que sozinho,
Foi tão grande para nós dois.

Antes de mais nada, foste tudo o que sempre tive e que sempre terei,
Imagem de mim mesmo
A tristeza de saber-me só, ainda que contigo,
Fui só eu, e eu sozinho neste amor

Amava a ti sim,
como amava a mim mesmo
Porque amava a mim mesmo
Eu amo a mim mesmo
Eu amo a mim,
E só a mim,
Mesmo.

12/12/2011

Um sorriso eterno

Hoje, que te odeio,
Quero falar de amor.
Lembrar de teu rosto na luz certa
O curto espaço entre nossos olhos
Na procura de um beijo

Sem dizer muito mais,
Palavras só representam o que é a verdade
Que eu dizia ao proferir:

Não me peça palavras ou declarações
Quando tudo o que tenho são meus braços, que sentem sua faltam.
Palavras são frias e minha pele só quer o calor da tua.
Não digas nada, usa teus lábios somente para beijar-me,
Infinitos beijos
E outros,
E outros,
E mais outros.

E como fazer de outra maneira?
O peito órfão não quer senão sua completude
As pernas, entrelaçar-se
Meu pé, roçar o teu.

Hoje, que te odeio
Quero falar de amor.
Lembrar teu rosto como era,
A doçura iluminada
E não no que se tornou,
Cínico ranço confuso
Fingindo não lembrar,
Da pele, dos braços, dos pés.

Mas hoje, que te odeio,
Quero falar de amor.
Que é assim que eu me lembro
E não me permite trocar
A imagem de alguém, que já não é você,
Pela memória do teu calor.
Teu pescoço, marcado de lábios e dentes
Pela aspereza do que restou.

Hoje, que te odeio,
Prefiro falar de amor.
Sorria só mais uma vez, como adeus
Mas um sorriso eterno, para um adeus eterno
Porque, agora, faço o que devo e me vou.

ABCB

Espasmo catódico
Deitado no chão
Completa, volume
Tu sim, eu não

Um preço tão módico
Herético, pagão
A luz, vaga-lume
Tu sim e eu não?

Cátodo espasmódico
Viajar eles vão
Para onde quer que estrume
Tu sim, mas eu não.

12/05/2011

Sans Jamais

La lettre que je regarde
J'ai la vue
J'ai la lue
Des mots que je n'ai jamais entendus

Ces sont les mots,
C'est la lettre que je dois détruire
Que je dois déchirer
Que je dois oublier
Ces sont les mots de mon vain désir

Sans jamais l'ouvrir
Elle m'a fermé
Mon coeur, détruit
Pour la vie qu'elle m'a trompé

Maintenant
Je seulemant relierai
Les parties perdues
De mon âme brulée

Act in Four Plays

In the corner of the room
Where her thoughts are kept away
She sits quietly, tormented,
By the sound of words she did not say.

Matching colours and feelings
The deepest blue and shades of gray.
Painted in the oppressing walls,
A lingering memory from today.

Haunted mind, regretful heart.
The mirror spits the truth before it's break
Now the frightful girl only longs
For a new chance she will never take.

12/04/2011

Amália

Miríade de mares
Amores mundanos
Milhares de anos
Ao mar, a mulher

Masmorra, a torre
Mirando, muralha
Ameias, Amália
Mesmo, um nome qualquer

Marinha, medrosa
Amália ao mar
O mar amainou

Molhada, mortalha
Menina Amália
Ao mar se jogou

12/03/2011

Toda vez que você dançar (2002)

Toda vez que dançar
Será que de mim
Irá você lembrar?

Se eu não te acompanhei naquele dia
Foi por não poder
Com minha pouca desenvoltura
A sua bela, dançante figura
Arriscar

Eis que hoje danço sozinho,
Sonhando que estou contigo
Deslizo pela sala
Vou e volto, deixo uma lágrima
Tento em um canto te abraçar

Inútil

Inútil, pois sei que estás longe
Inútil pois te vejo, mas à distância
Com tantos e tanto entre nós,
Foste a parceira com que acabei por não dançar

Enquanto durar a separação
Continuarei a tentar, exercitando meus passos
Pois toda vez que estiver dançando
É de ti que vou lembrar

11/30/2011

Mesa Posta (2003)

Abóbora, pimentão,
pimenta-do-reino, batatas sobre a mesa.
Oil, pepper, sugar.
Frascos em língua inglesa.
Olho para a toalha sobre a qual como
e só me resta a cruel incerteza:
Eu comprei tomate?

11/29/2011

Minha Mão Esquerda (2001)

Não quero mais escrever poesia

Não quero mais escrever poesia.
A risada não se explica
O sorriso não pede expressão
A luz, que aquece mesmo as madrugadas
é sentida na pele, e a pele, no toque
e o toque, em vão.

Em vão?
Jamais!
Aqui fico com o poeta:
porque a vida só se dá a quem a ela se deu

E a escrita, pois?
A escrita está cá para quem dela precisa
Amiga fiel, das horas tristes,
exprime o sentido da confusão,
Ou o que foi, só, sentido.

Não, a risada não quer palavras.

Mas a risada, amiga alegre,
é instável, fugidia
Desaparece no mesmo raio em que veio
E eu, que não mais quero,
Fico cá a escrever poesia.

11/28/2011

Lânguida (2010)

No pequeno escritório escuro de quarto andar ainda ouve-se a rua, que por sua vez ignora o que aqui se passa. De fato, não passa nada. A noite já longa revela pouco mais que a fumaça do cinzeiro e, por trás dela, o rosto cansado do homem que revira as cinzas como quem revira o resto de um passado que não se permite morrer.

Quem era afinal a pessoa que procurava? Por certo buscava alguém, era isso que as muitas fotos em preto-e-branco mostravam. Momentos no tempo, testemunhos de atos de amor, vidas alheias roubadas pela câmera inquisidora. Pareciam felizes, apesar de algo estranho transparecer. As fotografias capturavam tudo, todos os pequenos toques, carícias, abraços e mesmo as curiosas e freqüentes mordidas que os amantes pareciam gostar de trocar, mas nunca fixaram nos negativos o rosto daquela mulher.

Detetive, afinal, era o que dizia o letreiro fixado ao vidro da velha porta. DETE IVE, na verdade, sinal dos anos de desleixo que deixaram suas marcas também no piso gasto e na mesa manchada de cinza claro, testemunho de incontáveis cigarros. Os olhos, vermelhos, fatigados, consolados pelo eterno copo de scotch, pareciam percorrer cada anotação, registro ou detalhe de um caso que, daquela forma, à meia luz, era ainda mais insolúvel. Sua cliente o exigia – precisava, a todo custo - saber quem era a responsável pelo fim abrupto da sua felicidade; fora trocada por outra, mas que outra? Ele, por sua vez, precisava de dinheiro. Quando daria, por fim, um nome ao pesadelo louro das fotos, essa rompedora de noivados?

Ouviu passos no corredor. O distinto ruído do encontro do bico fino de um salto alto com o velho assoalho do edifício já centenário. Algo inesperado àquela hora da madrugada, não costumava receber visitas, nem mesmo de dia e, a julgar pelo amarrotado de sua camisa, algum tempo passara desde a última vez que se preocupara em encontrar alguém. O trabalho de investigação é muito solitário.

O ruído crescia, porém sem pressa, como o caminhar tranqüilo de quem não carrega qualquer temor. Lentamente definia-se o contorno de um corpo jovem, cintura fina, tomada como que por um abraço apaixonado pelo vestido que no escuro escondia seu encarnado, mas uma vez à luz da entrada, era vermelho como nunca o fora nem mesmo a mais insidiosa sedução. Lânguida.

Com o soar da campainha, ele, atônito com tão surreal intervenção, tirou os pés de cima da mesa, largou o cigarro, a bebida – por aquele corpo, largaria qualquer coisa – pôs-se de pé e, num momento de hesitação, apertou o frouxo nó da gravata negra. Com um pigarro preparou a voz para a fala calculada, planejada. Ao abrir a porta, disse com o melhor tom permitido por sua língua presa:
- Posso ajudar?

Sem resposta. A não ser por um breve sorriso, de lábios nervosos, como que segurando o riso e, ao mesmo tempo, prestes soltá-los no ar. Seus olhos, azuis, puseram-se a penetrar os dele, buscando fundo pela fonte de tal idéia. Ora, oferecer-se para ajudar, assim de madrugada. Quem seria tão ingênuo? Ele, insatisfeito e pasmo pelo silêncio, inquiriu:
- Mulher, posso ajudar?

Gargalhadas! Incontidas gargalhadas tomaram conta da pequena sala. Aquela mulher, lânguida, sensual, zombava de seus esforços e de suas maneiras. Qual seria a razão de tal insulto? Quem era ela? Pelos cabelos dourados e o inusitado da aparição, seria a tão misteriosa amante, em busca de alguma vingança ou reparação? Sim, poderia ser ela, mas não conhecia seu rosto, não podia reconhecê-la pelas falhas imagens capturadas. Intrigado, perguntou:
- Posso ajudar?

O riso explodia sem medida pelo rosto da misteriosa visitante. A boca aberta com todos os dentes à mostra, gozando aquilo que parecia a coisa mais engraçada do mundo. A rua, já silenciosa, escutava-os de longe, no deleite daquele corpo que, sem controle, mal cabia em seu justo vestido rubro.
A situação ganhava contornos absurdos. Que tipo de delírio era aquele? Ele não sabia como reagir, incrédulo, àquela aparição sedutora e zombeteira. Era linda, pois certo, estonteante, talvez, mas o que o mantinha hipnotizado era aquela ruidosa loucura. O que fazer? Preocupado, proferiu:
- Posso ajudar?

Sem resultado. A histeria continuava, nela, os globos oculares vertiam lágrimas de prazer pelo riso infinito. Retorcia-se. Soltou os cabelos que insanamente voavam até, em algum momento, encontrarem o rosto do seu interlocutor. Chicoteavam-lhe a cara, machucavam-lhe as pálpebras, tomavam de assalto cada espaço disponível. Dançavam como raios louros nos ar. O transe insano, possuído, assustava aquele homem, cujos anos de carreira a escrutinar as mais intimas depravações humanas não o haviam preparado para lidar com tal descontrole. Mulher lânguida. Mulher insana. Mulher risonha. Mulher...

Quem era aquela mulher? Por Deus do céu, quem era aquela mulher? Não importava o que pensasse, não podia entender o que estava acontecendo. De onde surgira tal sonho, ou pesadelo? De que história absurda era ele personagem? O que era aquilo? Transtornado, assoberbado pela dúvida, não foi outra sua atitude:
- Mulher... posso ajudar?

Ela parou de rir. Suas expressões mudaram. Agora, séria, fixa naquele objeto assustado que insistia em considerar-se um homem. Com um gesto súbito, jogou-o contra a parede, com força. O impacto ecoou pelos andares. Perdendo o ar, ele não reagiu. Observou apavorado a sua aproximação, viu segurar-lhe os braços, prestes a possuí-lo. Por um segundo abençoou tal surpresa. Ela era lânguida, sensual... A tensão tomou conta de seus membros, um vazio tomou-lhe o estômago, correntes elétricas percorriam-lhe a espinha. O ataque, iminente.

Ela o mordeu.

A marca de dentes cravados no braço não permitia esconder o estranho intento daquela criatura. Mantendo-o cativo, seu corpo a pressionar o dele, ela o mordeu. Voltou a rir, somente para escutá-lo dizer:
- Posso ajudar?

Seu punho cativo não o permitia defender-se, sua mente girava em busca de respostas e não encontrava senão o pavor de ver-se domado, indefeso, vítima de mordidas constantes; só via o medo, o medo, o medo! O que era aquilo? Quem era essa mulher? Por que ela o mordia, concedendo tréguas somente para ter tempo de voltar a gargalhar? O desespero tomou-lhe conta:
- Posso ajudar? Mulher... posso ajudar?

Mas as mordidas não cessavam. Ela não queria ajuda, mas sim mordê-lo, por todo o braço, as mãos, os ombros, a barriga e, ao tê-lo torcido, mordeu-lhe também as costas, estas com especial prazer. E ria alegre, ruidosa, para então voltar a mordê-lo. Já arrancava-lhe o sangue pelas marcas dos caninos vorazes. Não era uma vampira, mas como sugava-lhe a vida... Qual não era o gozo em apertar os dentes contra aquele homem indefeso, exausto, que não respondia senão:
- Posso ajudar?

O sangue corria pelas pernas, manchava a camisa branca e o velho sapato do detetive assaltado por tão sensual criatura demoníaca. Fincava os dentes cada vez mais forte, cada vez mais profundo. Feria-o irreversivelmente. A convulsiva resistência que tentava opor era inútil. A cada segundo debilitava-se. Pensava que ia morrer e, apavorado, questionou:
- Mulher, posso ajudar?

Seu rosto ficou pálido, suas mãos, trêmulas. A cada mordida um pouco de vida ia embora. As forças já faltavam àquele trapo humano, cujos joelhos dobravam em agonia, levando-o finalmente ao chão. Caído, prestes a perder a consciência, olhou para o alto. Num último suspiro, suplicou:
- Mulher... você pode me ajudar?

11/27/2011

O curioso é que as palavras são as mesmas

O curioso é que as palavras são as mesmas

Se a vida fosse uma coleção de retratos falados,
Haveria progressão, ou ao menos mudança.
Se a vida fosse uma lista de experiências,
Haveria novidades, ou ao menos lições.

Se descrevesse teus braços, envoltos em meu peito como laço de presente,
Contaria em diferentes números teus sinais, ou mesmo sua extensão.
Se contasse o tom de tua pele, ou a cor de teus olhos, fitando-me intensamente,
De diferentes metáforas formaria meus relatos.

Se escrevesse de nossos beijos e com qual verdade nos amamos,
Diria de vidas diferentes, sem nexo ou ligação.
Se relatasse os encontros e desencontros de nosso pensar,
Não haveria sequer possibilidade de comparação.

Mas o curioso é que as palavras são as mesmas.

Quando o vazio se instala,
As palavras são as mesmas.
Quando a carne esfria,
As palavras são as mesmas.
Quando o adeus se dá,
As palavras são as mesmas.

Quando não restam mais que uma lembrança e braços órfãos de teu corpo,
O curioso é que as palavras são as mesmas
Quando a saudade é o rastro mais forte deixado por um amor,
Não há o que inventar.
O curioso é que as palavras são as mesmas.

Aninha

Aninha

Aninha era perfeita. Com aquele toque de pele fresco que só uma mulher tem, ela recostaria suas costas em meu peito para assistir um filme, com seu braço direito levantado fazendo-me cafuné, enquanto eu passaria as mãos por sua barriga. Eu gosto de acariciar seu abdômen, ela gosta de beijos no pescoço. Eu gosto de correr a ponta de meu nariz por trás de sua orelha, pelos finos fios que escapam de um frouxo coque. Ela não lavou o cabelo hoje, mas não importa. Em sua blusa de cashmere azul claro, com um decote que revela quase até os ombros, ela está linda e eu lhe beijo o pescoço.

Mas Aninha queria ver o filme. Gostava de Errol Flynn, Gary Cooper, era de outra época. Sabia qual era em technicolor ou em kodachrome, mas isso era eu que lhe dizia. Seria uma mania minha, falar sobre filmes antigos, mas ela achava aquilo o máximo. Eu tinha que sussurrar em seus ouvidos, não mais que um breve comentário. Aninha queria ver o filme. Disse que vai usar as cores com inspiração seu próximo projeto, os jogos de luzes, aquela estética, aqueles heróis, aquele mundo. Ela havia explicado os conceitos que usaria, mas confesso que não entendi direito. Muita semiótica e palavras assim. Tinha prazer de escutar sua voz que ainda lembrava a menina sapeca que fora. Eu também queria ver o filme, mas não importa. Em sua blusa de cashmere azul claro, com um decote que revela quase até os ombros, ela está linda e eu lhe beijo o pescoço.

Aninha era perfeita. Usava meia-calça e sapatilhas pretas. Saia curta, negra, e blusa de cashmere. Seu corpo encaixava no meu. Poderia ficar horas protegida em meu peito, deitada como um bebê em meus braços, a ver televisão. Só levantaria para fazer pipoca. Ela gosta de pipoca. Não, Aninha, deixa que eu faço pra você! Fica aqui deitadinha que eu já volto. Mas ela não deixava, insistia em fazer ela mesma. Não gostava de muito sal. Voltava com a tigela cheia, encostava seu corpo no meu, confortável em meus braços, para ver o filme. Ficaríamos assim, por horas. Quentes um no outro, esquecíamos do vento lá fora. Quando o filme acabasse, ela esticaria seus braços, a se espreguiçar. Esfregava sua cabeça em mim, por provocação. Ao virar-se, olharia fundo em meus olhos e, com um leve sorriso, percorreria gentilmente meu rosto com a ponta de seu nariz até fixar-se em minha boca. Com seus lábios beijaria os meus, devagar, para aproveitar cada segundo. Com meu lábios percorri os seus, detidamente. Desci ao queixo, para acariciá-lo, e continuei. Em sua blusa de cashmere azul claro, com um decote que revela quase até os ombros, ela está linda e eu lhe beijo o pescoço.

Aninha era perfeita.